Em forma de crônica, Laysla Bonifácio conta como um affair pode reverter o bloqueio para ir além do the book is on the table
(Por Laysla Bonifácio, na coluna Brasília Sem Fronteiras)
Era dia 30 de dezembro de 2016, em Copacabana, Rio de Janeiro. Eu estava deslumbrada com todas as opções que a cidade me oferecia. Eram festas, open bar, caipirinhas, cerveja gelada, praia, sol, novas conexões... uau, era a virada de mais um ciclo!
Naquela noite, fui a uma festa e conheci um homem que vivia na Austrália. Ele não falava nada de português e eu, bem, tinha uma péssima relação com a língua inglesa. Durante a adolescência, não aproveitei a chance de aprender inglês porque, na época, não tinha afinidade com o idioma, mesmo tendo a oportunidade de estudar em uma excelente escola de línguas que fica no meio da asa sul: o CIL (Centro Interescolar de Línguas de Brasília) instituição dedicada ao ensino de diversos idiomas para estudantes da rede pública de ensino do Distrito Federal. Anos se passaram e lá estava eu, no Rio de Janeiro, com um gringo, sem saber dizer nem "the book is on the table". Como paquerar? Bom, deu certo o flerte com mímica e com o Google Tradutor!

Fachada do Centro Interescolar de Línguas de Brasília, há mais de 40 anos ensinando línguas aos estudantes de escolas públicas da cidade. Foto: Divulgação
Iniciou-se um romance que durou todo o primeiro semestre do ano da virada, era meu amor de verão. No dia 2 de janeiro, ele voltou para a Austrália e eu, para Brasília. Cada dia que passava, eu sentia mais necessidade de aprender inglês para poder me comunicar com ele. Foram seis meses intensivos de cursos online e conversas via vídeo e mensagens. Fui aprendendo a falar inglês, comecei a gostar da língua, me encantando com as diversas culturas que o inglês carrega em si.
Muitas vezes, experiências negativas nos fazem desistir ou perder o interesse em algo que, futuramente, pode ser benéfico . Foi necessário ter uma motivação — neste caso, amorosa — para compreender a imensidão que é a aprendizagem de uma língua adicional. Aprender um idioma é compreender um novo sistema linguístico, novas práticas culturais, experiências, sons, é incrível! Isto te dá a oportunidade de ampliar um pouco mais a sua visão de mundo. Ao meu ver, aprender línguas é uma experiência similar a de amar alguém.
Olhando para o viés linguístico, Krashen propôs uma teoria onde ele explica que o filtro afetivo é visto como uma barreira mental que impede os indivíduos de aproveitarem plenamente a aprendizagem de uma língua. Diversos fatores contribuem para esse bloqueio, especialmente os de natureza psicológica, como desmotivação, falta de autoconfiança e insegurança. Fica evidente que manter uma afetividade e uma boa relação com a língua-alvo é benéfico; isso torna a aprendizagem mais prazerosa, coerente e divertida.
Quais são os bloqueios que nós criamos nas nossas aprendizagens? Reconhecer e superar esses bloqueios é essencial para progredir e descobrir novas possibilidades. Afinal, aprender não é apenas uma questão de capacidade, mas também de coração aberto e vontade de se conectar. E viva o amor!
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